Meu nome é José Carlos Dias Bastos, mas meu apelido, como todos conhecem é
Zé do Nino.
Eu nasci, aqui em São Roque , nesta casa, onde estamos fazendo essa entrevista, que
fica na Rua Rui Barbosa 277. É uma casa muito antiga, da nossa família; o
documento que temos é de 1860, aproximadamente.
Nós procuramos conservar como ela é,
feita de taipa e pau a pique, com algumas reformas com o tempo.
A fachada da
nossa casa atrai, porque realmente é bonita, é diferente, hoje em dia não fazem mais com todos esses detalhes.
Ela foi reformada em 1920, meu pai
tirou a parede de taipa, como era costume; o telhado ia até o meio da rua
quase, ele calçou a casa e construiu essa parede já de alvenaria, com essas
molduras. Tem até um nome parece, que é
arte-republicana, da época da República, quando teve mais dessas construções
com molduras, balaustres. aqui em
São Roque , quase todas as casas eram assim, mas o “progresso”,
não dá pra segurar e vão derrubando tudo e fazendo umas coisas quadradas, que
não tem vida, não marcam. E hoje em dia, essa casa chama muito atenção.
Fachada da casa Zé do Nino |
Eu brinco que a influência que tenho, de gostar e de participar tanto da Festa é porque eu nasci durante um desfile dos carros de lenha, na entrada da Festa de Agosto de 1933.
Família / origens
Família / origens
Sou filho de Antonino Dias Bastos e Julieta
Eugenia da Silva Bastos.
Do lado do meu pai, o avô era português,
José Joaquim Dias Bastos e a avó Barbara de Godói Bastos; ela é da família
Godói, de Campinas, família de origem antiga também e ela já é brasileira de
diversas gerações.
Lógico que todos nós descendemos, ou de
portugueses de outras gerações, um pouco de mistura com índio, então meu avô
veio da Cabeceira de Bastos, um lugar em Portugal, ele veio com mais dois
irmãos, em aproximadamente 1870.
O meu avô veio, como todos vinham na
época, para aproveitar a riqueza do Brasil, fazer a América e trabalhar nas
fazendas de Café. E nas fazendas de café do lado de Campinas, que era uma
região muito rica já naquela época, ele conheceu minha avó. Casou-se e tiveram
três filhos, meu pai foi o primeiro, em 1880 em Itatiba. Meu pai
nasceu em Itatiba,região de Campinas.
A minha mãe, a família toda é de São
Roque, os pais, avós e bisavós dela, todos de São Roque.
O nome dos avôs maternos é Antonio Eugênio da Silva Cesar, da região do Saboó, Fazenda Saboó. Todos os Silva Cesar
vêm desse núcleo do Saboó e minha avó Alzira Xavier de Lima. Todos tinham casa
aqui na cidade, mas tinham as fazendas também.
Do meu avô materno, as fazendas no
morro do Saboó, e da minha avó era a Fazenda Canguera, mas não Canguera de hoje
e sim, onde atualmente é a cidade de Mairinque. A Fazenda Canguera, dos Xavier
de Lima, Xavier de Jesus, um cruzamento de famílias com quase o mesmo nome, era
o que acontecia antigamente, casavam muito entre si, então essas famílias formavam
a fazenda Canguera.
Por situação de herança, a Fazenda
ficou pra minha avó Alzira Xavier de Lima e foi ela, quem vendeu pra Sorocabana
em 1890, por 60 Contos de réis. Eu tenho a escritura e assinatura da minha avó,
da venda dessa Fazenda, porque a Sorocabana já passava no meio da Fazenda.
Aqui em São Roque , a Sorocabana
foi inaugurada a primeira vez, em 1875, então já fazia alguns anos (a Sorocabana)
devia ter desapropriado algum pedaço da Fazenda. Como os irmãos passaram pra
minha avó a herança, negócios de família, ela que assinou a venda. É um
documento histórico, não que eles sejam os fundadores de Mairinque, mas foram
os últimos proprietários da Fazenda Canguera, onde hoje é a cidade de Mairinque.
Tropas / Ferrovia
A família da minha mãe, todos são de São Roque, os meus bisavós do lado materno, chamavam-se Pedro Antonio da Silva (Pedro do Saboó, era o apelido identificando com o bairro) e a bisavó era Maria Carlota Custódia da Silva. Esse Silva encontra com o Silva do meu bisavô também, são todos da mesma região.
foto: acervo Bruno de Lucca |
A família da minha mãe, todos são de São Roque, os meus bisavós do lado materno, chamavam-se Pedro Antonio da Silva (Pedro do Saboó, era o apelido identificando com o bairro) e a bisavó era Maria Carlota Custódia da Silva. Esse Silva encontra com o Silva do meu bisavô também, são todos da mesma região.
Os bisavôs paternos da minha mãe eram Antonio
da Silva Cesar, ele era tropeiro e aí tem uma historinha à parte. Antigamente,
o que havia em torno da Economia era às voltas da Tropa. Faziam viagens, vendiam
e trocavam mercadorias, levavam mercadoria pra Santos e traziam Sal de Santos,
nos burros, isso acontecia com todos daqui. Não havia estrada, não tinha outro
meio de transporte a não ser os burros, cavalos e bois, então foi um progresso
até pra São Roque a época das Tropas arriadas, que iam pro Rio Grande do Sul.
O centro desses tropeirismos era Sorocaba, como São Roque é próximo, então havia muito contato e era costume os daqui irem junto, levavam mercadorias, animais e havia um intercambio muito grande. Eles estavam sempre nessas viagens.
A minha Tataravó, Maria Rita dos
Prazeres é da cidade gaúcha Passo Fundo. Acreditamos que ele tenha casado lá,
ou trouxe-a e casou aqui; também vieram outros parentes dela e se radicaram
aqui em São Roque ,
então eu tenho uma tataravó gaucha.
Eles tiveram 12 filhos, eu tenho o
inventário de 1838, quando do falecimento dele deixando o nome de todos os
filhos, a idade, a mulher, os bens, a Fazenda do Saboó.
É um documento interessante, que chama
muito a atenção porque na época eles tinham escravos. Então tem a relação dos
escravos: eles eram registrados em cartório, como se fossem um bem material,
tinha o preço que valiam pra negócio; a origem- se eram africanos de Angola ou da
Guiné; os partos, alguns já eram nascidos aqui. Interessante esse inventário do
meu tataravô, aqui em São Roque.
Vida rural e urbana
Do lado da minha avó Xavier de Lima,
nasceram todos em Canguera, que hoje, como eu disse é Mairinque. E onde hoje é
Canguera, antes era Sorocamirim e com a abertura da estrada de ferro Mairinque-Santos,
na década de 1920, foram feitas as estações de trem: Goianã, Mairinque e eles
puseram uma parada, onde hoje é a estação de Canguera, em homenagem a Fazenda
Canguera.
A casa deles aqui na cidade era na Praça
da Matriz, aquela casa que tinha perto do Cine São José, uma casa cor de rosa,
com terraço na frente, onde é o Plagio (copiadora) hoje, pra dar a referência.
Era costume ter as fazendas e casa na cidade e a casa do meu avô materno era ao
lado da Igreja. As famílias eram poucas, eles eram participantes da vida da
cidade.
As pessoas morriam muito cedo, a única
avó que durou mais anos e que convivemos bastante é a Alzira Xavier de Lima,
que era dona da casa ali na Praça da Matriz. Ela era uma pessoa, que nos
influenciou muito e ajudou a criar todos nós. Era a matriarca da família ela
sempre foi muito participativa; os irmãos vinham falar com ela sobre tudo o que
queriam e precisavam: doença, festa, casamento, vinham casar na casa dela, os
velórios eram na casa dela, então ela ficou o centro da família Xavier de Lima.
E como ela morava ali na Praça da Matriz, aquela casa era o centro de toda a
família. Ela foi festeira da Festa de Agosto, em 1905, naquele tempo os
festeiros eram: uma senhora, viúva ou não e outro senhor, para formar duas
famílias e fazerem as festas. Então ela e o Sr. Antonio Henrique Arnóbio, foram
festeiros desse ano, as famílias conviviam.
Festas de Agosto e a
História da cidade têm...
E eu então, desde criança vivi todas
essas festas, porque era uma aprontação, era uma espera, a cidade toda esperava
pela Festa de Agosto. A gente ouvia a conversa dos mais velhos, “esse ano
precisamos pintar a casa pra Agosto”, ou qualquer outra coisa, “vamos deixar
pra depois da festa”, “vamos começar a ver os doces pra festa”, todas as casas
se movimentavam porque, os que estavam no município, moravam em sítios e vinham
pra cidade nessa época e passavam 15, 20 dias. Vinham de fora, parentes e
conhecidos das famílias, daqui de São Roque.
Não existiam hotéis, havia somente algumas
pensões, o costume mesmo era assistir na casa de alguém. As casas eram grandes,
com muitos quartos, não havia tanta privacidade, era o quarto das moças, dos
meninos, dos mais velhos. A vida era muito simples.
...Cheiro Cor e Sabor de Agosto
A gente notava que a festa estava se
aproximando e começava a chegar gente de fora e então íamos nos apertando mais;
eram dois três colchões em cada cama que iam diminuindo, porque iam pondo no
chão, e mudava de lugar, porque vinha mais alguém dormir. Um mês antes era
aquela movimentação para preparar as coisas. A festa de Agosto é tão importante
aqui em São Roque ,
é a referencia pra nós.
Ela tem cheiro, som e cor. O cheiro já
começava com o descascar laranja azeda pra fazer doce, aquele cheiro
impregnava; era um doce que se fazia bem adiantado, então começava no mês de
julho a descascar laranjas, deixar de molho, aquele ritual todo, vinha gente
pra ajudar, as tias, então tudo era festa, era uma vida fantástica, hoje em dia,
com todo o progresso vivemos numa correria e não curtimos nada. Então os
cheiros são dos doces, dos assados, do pastel, das barraquinhas das baianas, cuscuz,
sardinha frita, bolinho de bacalhau, comida típica baiana, e tinham outras
também: as barraquinhas de quitandas, amendoim com chocolate, o cheiro do algodão
doce, porque essas coisas só tinham nas festas. Eu identificava também, com a
entrada dos carros de lenha, o cheiro dos animais, da lenha cortada recentemente,
o cheiro marca, até o cheiro do estrume dos bois.
O som era do tradicional rojão de vara,
que subia e a gente ficava vendo até onde ele ia soltando as faíscas; som as
Bandas, as Alvoradas, as Procissões, os Cantos da igreja, aquelas ladainhas, isso
dava um som característico pras festas.
E a cor, é que a gente fazia roupa pra
festa, ficava todo mundo mais colorido, as cerimônias da igreja, as procissões,
cada família enfeitava o andor de um Santo. Aquele Santo combinava com uma cor,
então as moças faziam vestidos da mesma cor e os moços também acompanhavam. Aquilo
dava um colorido muito bonito pra festa, que é uma coisa muito forte até hoje.
Praça da Matriz numa Festa de Agosto |
Tinham as barracas de bonecas, que já
são mais recentes, mas havia os sorteios, então os pais ficavam ali o dia
inteiro, pras crianças ganharem. As mulheres que sabiam costurar faziam roupas
para as bonecas, sua mãe, por exemplo, era uma das fazia todos os anos. Isso
tudo foi desde a fase da minha infância.
Família / escola
Sempre moramos nessa casa, aqui moravam
14 irmãos, minha avó, meus pais, mais parentes, então minha casa sempre foi de muito
movimento.
O quintal grande, com horta, frutas,
criava porco, galinha, até cavalo. Eu não cheguei a pegar o tempo, mas teve ate
vaca de leite, que vinha da fazenda do Carmo, dos meus tios avós, e nós soltávamos
esses animais, onde hoje é a Avenida Antonino Dias Bastos, o nome do meu pai,
onde antes tinha o campo do São Bento.
Quintal da Casa que dava para a Rua Pedro Vaz |
Naquele campo era o pasto do Comendador Inocêncio e nós soltávamos os animais lá. Eu mesmo, já maiorzinho levava nosso cavalo pra soltar no pasto. Às vezes à noite a gente tinha que levar o cavalo e ficava com medo! A rua acabava ai em baixo, perto da Light já não tinha mais nada era tudo escuro, mas a gente ia. Havia um portão onde hoje está a Rua Pedro Vaz, termina na Avenida, ali era uma porteira que a gente soltava os cavalos, todos que moravam na cidade. Eu acredito que seus avós tinham animais também, uma carrocinha pra transportar, eles tinham um açougue de carne de porco. Era a vida da gente, era o costume.
Escola
A minha primeira escola foi o Colégio
São José. Foi um progresso para o ensino, em São Roque , as freiras
terem montado o Colégio aqui, na década de 1930, Freiras Vicentinas, eram
belgas e vieram com muito sacrifício, lutaram muito, até a primeira casa que
elas moraram, ou a segunda, era em frente à casa dos seus avós, ali onde tinha
os Maraccini, na Rua Rui Barbosa (hoje um restaurante), que elas ficavam, davam
aula, depois começaram a dar aulas na Igreja de São Benedito e assim começou,
com a ajuda do pessoal foi construído o primeiro Colégio de São Roque.
O Colégio, a gente chamava de jardim da infância, depois do colégio passávamos para o Grupo, o ensino publico gratuito. Alguns ficavam, as meninas ficavam estudando, porque tinha internato no colégio, as meninas que vinham do sítio e ficavam internas.
Aqui em São Roque , nós temos o privilegio de ter o Grupo Escolar Dr. Bernardino de
Campos, que foi o primeiro grupo do Estado de São Paulo, de 1894, então marca bem a cidade na época. Porque depois Itu, Itapetininga também fizeram, mas oficialmente com documento, o nosso foi o primeiro. Já fez 100 anos, nós fizemos uma festa bonita em comemoração.
foto: acervo do grupo SOS Patrimonio Histórico SR
Foto atual do Grupo Dr. Bernardino de Campos
Muitos amigos meus formaram-se no Colégio, mas eu fui pro Grupo Dr. Bernardino de Campos, ia de manhã e depois à tarde, já com 7 para 8 anos.
O Grupo envolvia toda a cidade, todas
as famílias tinham filhos estudando no grupo, então tinha as festas, os desfiles,
a cidade toda tinha algo a ver com o Grupo Escolar Dr. Bernardino de Campos.
Havia algumas escolas isoladas, mas o Grupo foi uma coisa muito importante, que aconteceu na cidade e nós todos
estudávamos lá, por 4 anos o ensino primário.
A primeira professora, do primeiro ano,
no Colégio foi a irmã Modesta, depois no Grupo, ela não era aqui de São Roque,
Dona Adelina Calutti, lembro bem o nome dela, uma moça alta.
Minhas irmãs também lecionavam no
Grupo, Ondina, Diva, todas passaram por lá.
A minha segunda professora, Da.
Mocinha, filha de Dona Amazilia, mãe do Joel. Depois foi dona Sara e a última,
do quarto ano foi Dona Arpálice da família Moura. As fotos que estão no mural
lá no Grupo, têm do ano de 1901,
a minha mãe está lá, minha mãe, minha tia; tem dos
homens e das meninas e todos juntos das famílias da época.
Tinha uma que era sua tia avó, tia do
seu pai, Justina Boschetti, também as da família Maraccini, minha mãe falava
muito nelas e deve estar o retrato delas lá.
As aulas eram de manhã, a dos meninos e
a tarde era pras meninas, as classes eram separadas e mesmo sendo criança, com 7/8/9
anos a gente já ajudava no Armazém.
Meu pai teve Armazém ali na esquina da Avenida Tiradentes, onde hoje é o Prédio Costa, ali era o armazém.
Quando foi vendido lá, então nós mudamos o Armazém aqui nessa sala, até pra completar o tempo e aposentar, mas a minha intenção era restaurar e como você está vendo ficou do jeitinho que era a Casa antes, as janelas e tudo.
Armazém do Nino
No Armazém do meu pai, ajudávamos entregar compras, fazer alguma coisinha, nós limpávamos quintal, recolhíamos lenha, criança trabalhava.
Hoje em dia falam que criança não pode trabalhar, não pode ser explorada, mas trabalhar é uma coisa saudável, ser explorada é outra coisa.
Eu fiquei também um tempo depois da Escola ajudando farmácia do meu cunhado Dito Cesar, nós lavávamos vidros pra engarrafar xarope.
Trabalhei na loja do Alceu, na esquina onde é o Prédio Pontes, naquela portinha que tá aparecendo na foto, sabe?(mostra a foto), naquela casinha ali. Ele tinha uma loja de ferragens eu ajudava, e o que eu digo, dava tempo das coisas e a gente nunca
deixou de brincar.
A minha infância foi muito marcada na
Fazenda do Carmo, uma fazenda muito grande dos meus tios avós, que existe até hoje,
mas não é mais dos meus parentes. Não só eu, mas todos da família, desde o
tempo da minha mãe já se passava temporadas na Fazenda, era uma coisa
diferente, era outro mundo não tinha divisa, você nem via vizinho, de tão
grande. E tinha os últimos escravos ainda, filhos de escravo, que contavam as
histórias, aquela Fazenda com Gado, tudo o que tem numa Fazenda e a gente possa
imaginar tinha ali. Convivi muito na Fazenda com muita gente, muita conversa
muita prosa.
Tinha uma cozinha enorme, no meio tinha
um cimentado, com tijolo, porque o resto era tudo meio terra batida e ali toda
noite era feito uma fogueirinha, dentro da cozinha e sentávamos todos em volta
e contavam aquelas histórias.
Aquela foto é da Nhá Marica, que era
Dona dessa Fazenda, quando ela morreu nós estávamos lá ainda. Os meus tios, que
eram os últimos donos lá, porque ia passando de um pro outro.
Nhá Marica, última proprietária da Fazenda do Carmo |
Ruinas da Fazenda do Carmo acervo: Jornal O Democrata |
Meu padrinho, o Juca Xavier de Lima casado com Virgínia de Oliveira Santos, tia do Juca de Oliveira, era irmã do Tonico 60.
Então o Juca na minha idade mais ou menos, nós passávamos nossas férias juntos lá no Carmo, vinha o pessoal de Sorocaba, os daqui, juntava 20, 30 crianças, dormiam todos naqueles quartos, voce imaginou o que era a nossa vida lá? Uma maravilha, mas tudo tem seu tempo.
Meu apelido Zé do Nino, vem dessa época, porque tinha muito Zé. Zé do Dito, do Nhozinho, então puseram Zé do Nino, meu pai, pra identificar e ficou.
Depois eu entrei no Ginásio em
Sorocaba, Ciências e Letras, mas aí faleceu o nosso irmão mais velho, era nosso
primo, mas foi criado aqui em casa como se fosse nosso irmão mais velho, o
Alceu. E daí houve uma modificação, meu pai ficou sozinho na venda e resolveram
em família, me tirarem do Ginásio pra ficar trabalhando e ajudando na venda
porque os outros já estavam estudando mais adiantados e já para se formarem.
Na época nós íamos e voltávamos de trem
pra Sorocaba, todos os dias, mas ia um colosso de gente daqui, ficávamos o dia
todo lá. Sorocaba não era longe, levava uma hora e pouco, ia de manhã e voltava
à tarde, o trem ia cheio e ficávamos o dia todo na escola.
Aí eu parei. Eu não ligava muito pra
estudar, deixei e vim, eu até devo ter gostado. E fui ficando, tomando conta do
Armazém, eu tinha 14 anos em 1947 e então fiquei no Armazém a vida toda, deu
certo. Meu pai já tinha bastante idade e não houve uma necessidade dele fechar
o Armazém, demos continuidade. Depois ele faleceu, o prédio foi vendido então
nos mudamos prá cá, você chegou a conhecer o Armazém aqui, ficamos bastante
tempo, depois meu irmão aposentou-se e eu também me aposentei. Aqui funcionou
até 1983.
Entrelaços familiares
Como eu disse, ele nasceu em Itatiba e
minha avó tinha um parentesco com os Rosa aqui de São Roque, da família do
Barão de Piratininga, mas a ligação era maior com a família do Comendador
Inocêncio, que era desse prédio antes do prédio Costa, era um Sobradão, onde foi
a venda velha, que foi derrubado no inicio da década de 1960. Esse tio do meu
pai, que era parente do Comendador Inocêncio, o tio Albano, trouxe meu pai
emprestado pra ajudar a tomar conta dos negócios do Antonio Francisco, o filho
do Comendador, que já estava velho, doentio, não tinha muito tino pra negócios,
então precisavam de alguém que viesse ajudar e meu pai veio provisório.
Ele contava que veio a cavalo de
Itatiba, passou por Campinas, e era pra voltar a cavalo, mas foi ficando,
ficando, se entrosou muito bem aqui, minha mãe também já frequentava o
Sobradão, as famílias já tinham uma ligação grande e se conheceram naturalmente.
Isso foi em 1898, que ele veio pra São Roque, com 18 anos.
Aí ficou essa venda com ele e foi até
1962, quando ele faleceu e nós continuamos sozinhos até 1983.
Essa venda foi uma das mais antigas e
era um centro de reunião, meu pai continuou com o comercio, continuou tomando
conta das coisas, então ficou assim, meio herdeiro da influencia do Comendador
Inocêncio. Ele tomava conta dos terrenos, os filhos do Antonio Francisco eram
pequenos, meu pai participou do crescimento das netas do Comendador, que já faleceram
também, mas elas nos consideravam como da família, meu pai, como se ele fosse o
pai delas. Então há uma ligação muito forte com a família Rosa do Sobradão.
foto: acervo Luis Guilherme de Oliveira
|
E meu pai com essa influencia do
ambiente de São Roque, já bem tradicional, casou-se com minha mãe que também
era daqui e ele dominou um pouco a situação porque ele era muito prestativo,
serviçal, então ele ocupou um colosso de cargos, nos Clubes; foi vereador diversas
vezes, foi vice prefeito, delegado, por mais de 25 anos. Tinha o delegado
nomeado oficialmente e os delegados da região, então meu pai foi um deles por muito
tempo. Sr. Rino Boccato também foi, diversas pessoas foram, aqui era costume.
Ele foi muito político, qualquer coisa
que acontecia, as reuniões eram no Armazém. Como prefeito ele tem diversas
citações, antigamente era eleita a câmara, tantos vereadores e depois os vereadores
escolhiam um vereador pra ser o prefeito e outro pra ser o vice, era uma
eleição fechada (risos). O pessoal votava uma vez pra eleger os vereadores e
depois lá eles se elegiam.
A cidade era pequena, então ele foi
diversas vezes vereador, por muitos anos, eu tenho placas dele aí e nessa
vereança, duas vezes ele foi vice-prefeito e assumiu.
Numa das vezes, eu ouvia falar muito na
Revolução de 1924, que a cidade ficou vazia, todos fugiam para os sítios do
Tenente Isidoro. E nesse ano, minha mãe foi festeira de São Roque junto com o Padre
Pepe. E na Revolução, meu pai assumiu a Prefeitura, porque os outros saíram. Essa
casa aqui ficou quase como um quartel de resistência, de prontidão, pra acudir
as famílias, porque estava faltando alimentação e ele tinha o Armazém, então formaram
uma comissão pra haver uma autoridade aqui na cidade e ele ficou como Prefeito.
O juiz, e um grupo grande, foram pra São Paulo conversar com o Tenente Isidoro
e dizer que aqui era uma cidade pacata, pacífica, que não queríamos ser molestados
e que conseguissem mandar as coisas pra cá, para que não faltassem gêneros de
primeira necessidade.
Falavam muito que meu pai era delegado
só de “soltar, não era de prender”, porque qualquer coisa vinha aqui e ele ia e
soltava.
Amigos e vida social
Sempre tiveram as turmas. Quando
criança os amigos eram o Helio Chad, os Habibs, os Boschetti, Odilon, Roque era
menino, seu pai, Hélio já era mais velho, a família do Caio Pontes,
mas nós tínhamos amizade com todos. As casas, de todos eram enormes e tinham os
quintais também grandes.
Eu continuei no Armazém ajudando meu
pai. A família sempre participou de tudo, de Igreja, clubes e eu também segui o
caminho. Comecei no São Paulo Clube, fui eleito pra ter participação na
Diretoria e ali a gente começou, depois veio o Grêmio, participei junto com
outros, da Construção do Grêmio, mas a minha maior participação na vida social
mesmo foi no São Paulo Clube, por diversos anos. Ficava em cima do antigo Bios
Bar, tinha carnavais, bailes, era um clube gostoso.
A Literária que ficava na Praça da Matriz,
o prédio existe até hoje, ao lado do antigo Bar Bacana. Então era a Literária e
o São Paulo Clube.
Esses dois clubes foram até 1963,
quando houve a união dos dois e formaram o São Roque Clube. Nós continuamos a
participar da diretoria e da construção desse Clube, que tem aí até hoje,
trabalhamos muito lá. Eu fiquei lá até anos 80, fizemos muitos bailes e muitos
outros eventos e cursos. Éramos um grupo.
Os Clubes marcaram muito a cidade, a
Literária é o mais antigo vem desde 1890 e na época foi importante ponto
cultural, era um clube pra cultura, Saraus, era uma coisa avançada. Eu tenho um
estatuto da Literária com a lista dos sócios, acho que de 1920, e hoje, quando
eu mostro, são quase todos os nomes de ruas.
Clube Literária |
inauguração do São Roque Clube |
Quando houve a união passamos a
trabalhar para o São Roque clube e paralelamente também para o Grêmio, que era
uma turma mais do Esporte, e eu particularmente já não tinha muita ligação, mas
participei.
A minha ligação era mais com a parte
social, promover festas, Bailes, todo domingo tinha brincadeira dançante. A
vida era assim, 7h15m começava a brincadeira dançante, imagina se hoje alguma
pessoa sai nesse horário? Não sei por que 7 e 15, mas era. A música era tocada
na vitrola, algumas vezes alguém tocava ao vivo. E os bailes, sempre tiveram:
Baile da Primavera, Baile Branco, Bailes de Agosto, sempre foram um sucesso. Havia uma rivalidade entre a Literária
e o São Paulo Clube.
Orquestra Sinfônica Municipal foto: acervo SOS Patrimonio Histórico de SR |
Rei Momo/ Zé Pereira e
Lança-perfume
Os Carnavais eram maravilhosos, foram
lindos. E também começava cedo, 7, 8 horas saíam os cordões na rua, a orquestra
na frente tocando as marchinhas maravilhosas da época e iam fazendo serpentinas
no Largo da Matriz. O Largo cheio, o povo de todas as classes sociais vinha e vivia
o carnaval; os clubes saiam nas ruas, então tinha muito que ver. A vida da
cidade era na Praça.
Havia os grupos que iam esperar o Rei
Momo na Estação de trem, ele vinha de carro alegórico até a praça. Mas saia um
cordão da Literária, um do São Paulo, às vezes vinha um do Ferroviário, que era
um Clube mais popular, então enchiam o Largo de música.
Foto: acervo SOS Patrimônio Histórico SR
Foto: acervo Luis Guilherme de Oliveira
Uma coisa que só depois eu fui entender
mais. Nós usávamos Lança-perfume, era normal. Não era proibido, tinha as
banquinhas pra gente comprar, as farmácias, se comprava em todo lugar e era um
cheiro maravilhoso. Até as crianças de colo usavam, os pais compravam e davam
pras crianças.
Todo mundo tinha sua ampola de lança
perfume, de metal, de vidro, a gente espirrava na perna das moças, nas costas. O
Lança-perfume era uma das coisas importantes do carnaval, depois eu vim saber, que
é um éter que forma uma nuvem invisível, em qualquer ambiente meio fechado, não
evapora e por isso dava uma euforia nas pessoas sem perceberem, então todo
mundo era alegre.
As brigas não eram nada demais, todos estavam
a fim de se divertir, saía um ou outro empurrão, era um pega-pega, mas na mesma
hora já acomodava e pronto, continuavam a brincadeira. Eu depois vim a entender
a euforia dos carnavais antigos, uma parte era pelo lança-perfume, que o
perfume delicioso ficava pairando no ar.
Carnaval no antigo Cine Central
Foto: acervo Glauco de Paula Santos
As crianças não podiam entrar nos
clubes, mas a gente ia espiar e participava de tudo. Vasco sempre enfeitou o
carro alegórico que ia buscar o Rei Momo, que primeiro ia a São João e depois
vinha de trem e era uma chegada triunfal.
Os cordões, o Zé Pereira era uma
delicia, aos domingos à tarde começavam a sair então à gente corria pra ver. O
gostoso era ver o pessoal se arrumar se reuniam numa casa aqui no centro, todos
entravam com liberdade. As donas de casa começavam a abrir gavetas, tirar roupa
antiga, para os homens, que iam vestidos de mulher, mas era tudo improvisado, arranjava
cabeleira, cada um saía de um jeito, mas era tão natural, espontâneo. Isso foi
por muitos anos.
O mais famoso Zé Pereira aqui é o João eletricista,
ele morava no morro Sorocaba, tinha um toque especial do Zé Pereira, que acabava
com os outros. Tinha diversos meninos, que tocavam uniformizados, naquela
elegância, faixas turbantes, mas o toque era lindo e ele ficava quase o dia
todo na cidade e a gente ia atrás. Eu, quando era menino achava que ele era o
verdadeiro Zé Pereira, de tanto que ele representou.
Minha participação nos clubes, na parte
social foi uma vida inteira praticamente, largava os negócios pra cuidar do
clube.
Participação Política
Depois de muito tempo teve uma
renovação na política, com a turma do Mario Luis, ele foi eleito a primeira
vez, depois na segunda vez eu participei mais, formamos um grupo grande, era
gostoso trabalhar com ele, pois. Mário representava um ideal pra gente. Depois
da campanha, que foi vitoriosa eu continuei ajudando na Prefeitura.
Ai eu desliguei um pouco do Clube, foi
de 1955 até 1983. Eu tinha um cargo na parte de Turismo, na segunda gestão em
1983. Era um assessor, quase que direto. Depois tive um cargo na Cultura, mas
não remunerado, nunca ganhei um tostão na Prefeitura. Quando me aposentei fiquei
uns 6 anos com Mario e com Zito Garcia, isso foi até 1992.
Na gestão do Mario foi criada a Feira
permanente, em 1983, que fazíamos todos os domingos, onde era o recinto da
Festa do vinho. Seu tio Roque participou muito, ele tinha o serviço de som. E
tinham atrações. A feira foi muito importante para São Roque porque dava
oportunidade para os produtores da região, artesãos, artistas, todos se
apresentavam e o lucro era de cada um. Depois começamos a promover festas juninas,
julinas, festa da alcachofra.
Depois creio que já foi na gestão do Sanches começou a Expo floral, lá na Brasital, mas eu já não estava diretamente, ajudei com o grupo do Vasco, Murilo, Lucindo, que eram artistas, aprendi muito com eles.
Depois creio que já foi na gestão do Sanches começou a Expo floral, lá na Brasital, mas eu já não estava diretamente, ajudei com o grupo do Vasco, Murilo, Lucindo, que eram artistas, aprendi muito com eles.
Depois da prefeitura eu participava da Festa
de Agosto, porque todo mundo participava, ajudava a enfeitar barraca. Quando eu
estava na prefeitura e Mario dizia pros festeiros, que eles podiam pedir o que precisavam
que eu resolvia. Eu ficava apurado porque tinha que me virar pra fazer o que
era possível. Ajudava a trazer bandas de fora.
fotos: acervo jornal Se a Radio não toca |
Em 1975, com Vasco e Lucindo começamos
a fazer os tapetes ornamentais e não paramos até hoje, durante o ano eu vou
coletando, 800 sacos de serragem, que fica guardada, vêm um pessoal do Bairro
Rio Acima, uma família, vem ajudar a tingir a serragem. Passam o dia tingindo,
a prefeitura busca e leva, ficam 15 dias tingindo a serragem para os tapetes.
moradores da cidade participando na confecção dos tapetes |
Hoje já não tenho mais condições de
oferecer almoço pra todos como antes, então foi simplificando, é apenas
sanduíche; um traz uma coisa, outro traz outra. O forte ainda, por tradição são
os doces, sempre fizemos. Tem pessoas de fora que ajudam, minhas sobrinhas
ajudam, tem doceiras de confiança. São doces que o pessoal gosta doce de abóbora,
cocada amarela, doce de batata roxa, estamos mantendo porque todos dividem. Os
amigos têm sempre um grupo unido, que participa de tudo, nas bebidas, porque
vai bastante, então pra não sobrecarregar e poder continuar. Porque as portas
são abertas, quem pode ajudar venha, quem não puder também pode vir. Entra
gente, que nós nunca vimos, entra come, agradece. Passa aí, vê aberto e entra,
pensam que é Museu começam a visitar e entra na festa. Essa tradição naturalmente
foi ficando e espero que continue. Tenho prazer e orgulho de continuar servindo.
O ponto da casa é importante, fazemos os tapetes, você também já ajudou, quando
morava aqui, todos se envolvem.
telefone de parede da casa do Zé do Nino |
sala Museu casa Zé do Nino |
Os carros de Lenha, na abertura das
festas, são muito importantes, mas com o tempo foi se perdendo. Em 1985 eu
percebi que precisava ter mais alguma coisa.
Fizemos 2 carros alegóricos, dois ranchinhos carregados com primaveras,
as crianças participaram e isso deu um alento na entrada dos carros, juntaram
mais pessoas pra assistir, criança chama atenção. No segundo ano nós fizemos
homenagens às Bandas, fizemos um coreto em cima de uma carreta as crianças vestidas
de músicos e a Banda tocando ao lado. Fizemos charretes com arco de flores,
para os festeirinhos crianças, foram 12 charretes coloridas. Um ano depois
reproduzimos a Igreja de São Benedito numa maquete e a libertação dos escravos,
foi em 1989, trouxemos um grupo de capoeira, e outra coisas da cultura negra.
Então é isso arranjamos temas.
entrada dos Carros de lenha foto:acervo SOS Patrimônio Histórico de SR |
Depois começou a ficar mais difícil, em
seguida fizemos o que São Roque produzia verduras, alcachofra. Depois fizemos
um circo.
O ano passado (2011) fizemos as maravilhas de São Roque, o Morro do
Saboó, o Cruzeiro, a Capela de Santo Antonio, a Igreja de São Benedito, a Estação
Sorocabana, a Igreja da Matriz, esqueci um, mas está tudo exposto no Esqui, são
maquetes grandes. Esse ano (2012), pelos vitrais da nossa igreja da Matriz, estamos
contando toda a vida de São Roque, no dia 31 de julho, que é a entrada dos
carros de lenha, que sai do largo dos Mendes.
Estação Ferroviária acervo: Luis Guilherme C. Oliveira |
foto: acervo Luis Guilherme C. Oliveira |
Capela de Santo Antonio,pintura de Murilo Silveira |
Brasital acervo Luis Guilherme C. Oliveira |
Praça da Matriz Desenho: Franco Mazzoto acervo: SOS Patrimônio Histórico SR |
Igreja de São Benedito acevo: luis Guilherme C. oliveira |
Vista da Cidade do Bairro jardim Boa Vista |
Atualmente estamos tristes porque está acabando
toda tradição. Essa parte da preservação do patrimônio está mudando, estão descaracterizando, desfigurando a cidade.
As nossas encostas ainda estão mais ou menos
preservadas, o Esqui foi uma boa aquisição porque fez um parque temático e esportivo.
Preservando as encostas ainda é bom, por lei o município tem mais de 40% da
mata Atlântica nativas. Isso está um pouco seguro, a parte rural, as chácaras
são muito bonitas, as Pousadas.
Está transformando em um centro gastronômico, as
adegas, restaurantes, o que é uma saída para o turismo.
A natureza de São Roque é um presente,
mas os pontos ficam distantes, O Saboó é longe do Santo Antonio, a Mata da Câmara
fica em um ponto oposto às Adegas, então o que falta aqui em São Roque é a ocupação
do Centro com o que é tradicional e da região, o Centro está muito abandonado,
tem poucas coisas, dá pra melhorar muito, porque o Centro de uma cidade é o
local mais visitado e está muito descaracterizado e abandonado.
Outras grandes perdas foram o Cine São
José e O Cine Central, eles eram nossa vida, até os anos 70, depois foi
perdendo.
Foto: acervo Glauco de Paula Santos |
O que vamos continuar lutando para não
perder é a Festa de Agosto, que ao menos durante 15 a 30 dias voltam a reunir
as pessoas no Centro, em volta da Praça, nas cerimônias e acontecimentos em torno
da festa, promover o encontro das pessoas, dos que moram e dos que saíram
daqui.
A festa é importante manter, pois tem
romances do Barão de Piratininga, que descrevem essa festa desde 1670, no livro
A Assassina ou a Feiticeira, descreve “a cidadezinha, a igrejinha, tocando o sino,
a iluminação com latinhas de óleo de mamona; as pessoas dando volta no Largo
esperando começar as matinas, que no outro dia é festa de São Roque”.
vitrais da Igreja da Matriz |
Foi na Festa que houve a elevação de
São Roque a Freguesia, então teve 2 dias de festa, aí é a origem dos 15 e 16 de
Agosto e das “fogueiras de taquara, relampejando”, é poético, um trecho pequeno
e dá pra você visualizar a cidade na época, que registra o acontecimento da
Festa em 1670. Pra traz já tem o fundador que deixa uma obrigação para os
herdeiros, então a nossa festa tem
354 anos. Essa tradição, o cerimonial com os festeiros, que ficam como sendo
autoridades nessa época, continua. Os ex-festeiros formaram uma confraria, nós
nos encontramos sempre em jantares, tem 160 ex-festeiros vivos.
Morro do Cruzeiro |
A mensagem que eu quero deixar pras
futuras gerações é que aproveitem as boas coisas do progresso, mas não abandonem
a simplicidade, os passeios a pé, de cavalo, nadar em cachoeira. A simplicidade
no modo de vestir, de comer; que continuem preservando as amizades, cuidando da
cidade. Que não deixem, como fez a minha geração, que viu derrubar a Casa do
Barão e a Casa da Câmara e não fizemos nada, temos responsabilidade nisso.
Antigo Mercado Municipal |
O progresso é bom, mas às vezes sai muito
caro porque abandonamos completamente o que tinha de tradição e se perde a
memória, as raízes.
Antigo Casarão do Barão de Piratininga (demolido) |
Eu me senti comovido de você vir me
entrevistar porque há pessoas com muito mais experiência que eu, mas é bom
porque qualquer época é bom entrevistar alguém, já perdemos Vasco, Lucindo e
muitos outros que podiam colaborar com memórias preciosas da cidade de São
Roque.
Nota: As fotos postadas nesse depoimento são de diferentes acervos: Acervo próprio, acervo do extinto grupo do facebook SOS Patrimônio Histórico de São Roque, Luis Guilherme Oliveira, Glauco de Paula Santos, Bruno de Lucca, Searadionaotoca, entre outros.
Todos os depoimentos possuem autorização de cessão de imagens.
Captação dos depoimentos, transcrição e edição: Denise Boschetti